2021/05

CURADURA

Curadura coabita e fermenta no TBA. Durante três semanas propõe-se um grupo de experimentos, estudos e convívio com artistas, pensadoras e disquinhos gelatinosos de kombucha e outras bactérias, para imaginar transversalmente o teatro enquanto espaço público de responsabilidade social. ​Curadura intercala uma residência artística contínua com uma série de ​Assembleias Polémicas-Poéticas ao fim de semana e momentos de ​Fogo/Fricção ​durante a semana, em que a pesquisa e as práticas da residência são abertas à visitação.

“Tal como o kefir, nós e todos os organismos de células nucleadas, desde as amebas às baleias, somos agregados, não apenas indivíduos”, dizia a bióloga Lynn Margulis. Curadura propõe-se olhar a performatividade a partir de uma duração expandida — do espaço teatral e das suas materialidades, do corpo desde a vida bacteriana e suas fermentações, de palavras e slogans como redomas onde se alimentam artificialmente “géneros” e “naturezas” ou, simplesmente, cultivando a atenção sobre as plantas. Propõe-se o teatro como lugar de relação descentrado da “visão”, espaço de partilha do que habitualmente não se vê, questionando os seus modelos de coletividade tantas vezes forçados. Indisciplinando as práticas, multiplicando temporalidades, e abrindo a experiência à indeterminação dos processos, quer-se problematizar as fronteiras políticas do teatro, transbordando-as.

As Assembleias Polémicas Poéticas são encontros públicos semanais  que funcionam como “concentrados de energia”, onde um grupo de artistas residentes e convidades pontuais orbitam em torno de perguntas liminares que precisam de muitas pessoas humanas e extra-humanas para pensar.

A primeira assembleia da Curadura é organizada em colaboração com o projeto BEE., colmeia/queerlombo criativo e unidade de acolhimento, suporte, visibilidade e resistência dos artistas queer negres da cena lisboeta em forma de festa. É uma reverência à cultura Ballroom e aos ritmos afrodiaspóricos, do Vogue ao FUNK, do Carnaval ao Funaná, do R & B ao dancehall e tudo aquilo que o beat nos levar.

#desbundar    #artedodesbunde    #aqueerlombamento    #vidasnegrasimportam     #todasvidasnegrasimportam    #blackqueermagic    #supportyourlocalqueers

No segundo fim de semana, a assembleia é realizada em colaboração com a Rizoma Cooperativa Integral, uma mercearia comunitária autogerida em Lisboa, e com Hugo Dunkel, eterno apaixonado pela cultura alimentar e digestiva. Da mesma forma que os micro-organismos presentes na kombucha contaminam o bioma onde se encontram, imagina-se o espaço público como um bioma fértil para o encontro, especulação e transformação. A comida em cima da mesa, ou mesmo virar a mesa ao contrário para comer mais perto do chão.

#fermentação    #decomposição    #comidaviva    #bacteriasquenoshabitam    #hoteldekombuchas

No fecho da Curadura, a assembleia é organizada em colaboração com o coletivo Quimera Rosa, laboratório nómada criado em Barcelona em 2008 que investiga e experimenta o corpo, a tecnociência e as identidades. Quimera Rosa tem questionado as fronteiras entre humanidade e vegetalidade através do projeto Trans*Plant. Indagaremos também a “floresta urbana” contemporânea de Lisboa, composta de ervas daninhas alimentadas a urina.

#vegetalidade    #trans_plant    #clorofila    #biotariado    #ervasdaninhas    #matosdecomer

Fogo/Fricção é um momento para cultivar a alegria com momentos de estudo compartilhado, experiências coletivas, leituras, visionamento de filmes, práticas de aquecimento no decorrer das residências.

O primeiro encontro tentou encontrar o fulgor da possibilidade de estarmos juntes e fazer o espaço vibrar, com um workshop de vogue organizado pela BEE. e Adriano Vicente.

O segundo foi um momento de surpresa onde micro-organismos mediaram processos de fermentação e divagação. Encontrar alívio na possibilidade de estarmos juntes, a conversar e a contemplar o espaço e o tempo expandir. Nesta sessão foi ainda projetado o filme Becoming Extinct (Wild Grass) de Elke Marhöfer.

O terceiro foi composto por uma mostra de pequenos filmes, organizada por Teresa Castro e João dos Santos Martins, onde foi possível vislumbrar a relação que se estabelece entre a captação do movimento das plantas, permitida pelo aparecimento do cinema no final do século XIX, e experimentações coreográficas de incorporação destes seres vegetais. As duas atividades acompanham o decorrer do “século do movimento” por entre várias técnicas e posicionamentos que abrem pontos de reflexão para uma interação interespécie. Alguns destes filmes foram acompanhados de conversas e performances espontâneas.

 

Curadura ©Dayana Lucas
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⌂ FICHA TÉCNICA

Organização: Ana Rocha, Ana Rita Teodoro, Carlos Manuel Oliveira, Claraluz Keiser, João dos Santos Martins, Rita Natálio

Participantes e coorganizadores das assembleias: BEE. The United Kingdom of Beeshas, Carmo Gê Pereira, Hugo Dunkel, Puta da Silva, Quimera Rosa e Rizoma Cooperativa Integral

Em residência com: Adriano Vicente, Alina Ruiz Folini, Bruno Caracol, Di Cândido, Filipe Pereira, Gisela Casimiro, Inês Neto dos Santos, Letícia Skrycky, Lula Pena, Quimera Rosa, Sara Vieira Marques, Vânia Doutel Vaz, Teresa Silva e Teresa Castro

Produção executiva: Claraluz Keiser/Associação Parasita

Imagem: Dayana Lucas

Registo video: João Martinho

Registo fotográfico: Isabel Cordovil

Coprodução: Associação Parasita e Teatro do Bairro Alto

Agradecimentos: André Campos, Carlota Lagido, Francesco Rocca, Lucas Almeida, Manuel João Martins, Teatro Praga