Next Step é uma iniciativa de intercâmbio lançada pelo T Theater, em Macau, em colaboração e parceria com a Parasita. Dedica-se a incentivar e apoiar práticas performativas experimentais de artistas residentes na China, através de uma plataforma para a partilha e a investigação.
Residência em Cantão e Macau, Junho de 2025
Next Step é uma iniciativa de intercâmbio lançada pelo T Theater, em Macau, em colaboração e parceria com a Associação Parasita, em Lisboa. Após a vinda de artistas da China ao estúdio da Parasita, foram selecionades, por convocatória, quatro artistas residentes em Portugal para um intercâmbio em Cantão e Macau: Bibi Dória, Inês Zinho Pinheiro, Luísa Saraiva e Romain Teule. O programa juntará ainda um grupo de artistas sediados na China para explorar a polissemia através de práticas incorporadas. Ao longo da residência, uma série de eventos públicos — incluindo partilhas de investigação/prática, workshops, investigações site-specific e apresentações finais — oferecerá plataformas de troca e aprendizagem coletivas.
Para o co-curador Guo Rui, esta edição de Next Step centra-se na ideia de polissemia — a coexistência de múltiplos significados. Inspirando-se na visão do historiador de arte James Cahill, que defendia que a arte vital resiste a interpretações fixas, a residência convida es artistas a ativar novas funções nos seus meios de expressão, a partir de saberes corporais e culturais. A dança torna-se um espaço de relação com o som, as artes visuais, o teatro, a tradução e o cinema — não por sobreposição de camadas, mas através da interação dinâmica entre formas.
A polissemia também molda e nutre o modo e a forma das relações interculturais. Acolhe a diferença, o equívoco e o mal-entendido como espaços de descoberta — algo crucial num panorama global onde a dança tende, por vezes, à homogeneização. Ao questionar que linguagem fala cada corpo e que contributos culturais carrega, esta residência procura dar espaço a vozes emergentes na China e em Portugal para responderem às mudanças sociais, questionarem e reinventarem a sua identidade. As suas práticas — enraizadas nas em cânticos rurais, no teatro ou no cinema — desafiam narrativas dominantes, propondo expressões corporizadas para repensar a forma, o significado e a relação.
Bibi Dória
Artista interdisciplinar, licenciada em Dança pela UNICAMP (BR) e associada da edição inaugural da Rose Choreographic School – Sadler’s Wells (UK) 2024-26. Trabalha na interseção entre dança, performance e cinema. Residente em Lisboa (PT) desde 2018, desenvolve os seus próprios projetos e colabora como intérprete, assistente e dramaturga com vários artistas.
Trabalhando na intersecção entre o cinema experimental, a performance e a dança, durante a residência, a sua investigação irá explorar fundamentalmente a relação entre imagem e imaginação. Traz consigo uma pergunta orientadora: Quais são as possíveis estratégias do corpo na transmissão de uma sequência de imagens? Como podem ser memorizadas? Ou, até, como podem ser esquecidas?
Inês Zinho Pinheiro
Bailarina, investigadora e professora, tecendo ligações entre estas práticas. Inês estudou na Escola de Dança do Conservatório Nacional (Lisboa). Dançou na companhia júnior (Suíça). Licenciada em Ballet e Dança Contemporânea (Rambert School). Mestrado em História e Filosofia da Dança (Roehampton University). Colabora com a música/compositora Lilja Ásmundsdóttir. Desenvolve o projeto Sonic Voyaging e leciona na Escola Superior de Dança. Doutoranda em Artes Performativas e Imagem em Movimento.
Como podemos produzir dança para além da replicação de movimento? Esta foi a pergunta que levou Inês a desenvolver ‘propostas sonoras’ que encapsulam conceitos relacionados com o movimento. Agora, propõe uma nova prática — “formas de smemoring” –, investigando o movimento em relação com o cheiro e a experiência de recordar algo tão intangível e difícil de exprimir verbalmente como a memória olfativa.
Luísa Saraiva
Coreógrafa e intérprete, natural do Porto, Portugal. Estudou Psicologia na Universidade do Porto e Dança na Folkwang Arts University, em Essen. A sua prática artística explora a linguagem do corpo e da voz, situando-se na interseção entre movimento e composição musical. Na temporada de 2019/2020, foi uma das coreógrafas em residência no K3 | Tanzplan Hamburg. O seu trabalho foi apresentado em Portugal, Alemanha, França, Espanha, Suíça e Bélgica.
A investigação de Luísa Saraiva centra-se em canções de trabalho folclóricas sem palavras, explorando as suas qualidades rítmicas e emocionais. Inspira-se na tradição das liturgias solares, assim como na história da música noise. O projeto reflecte sobre a relação entre os corpos e o trabalho, particularmente num contexto de progressiva desincorporação vocal e de pressão crescente sobre o trabalho manual devido às alterações ambientais.
Romain Beltrão Teule
Franco-brasileire. Vive e trabalha em Lisboa. Licenciade em Design, com um mestrado em Artes Visuais, concluiu o programa PEPCC do Forum Dança. Trabalha com tradução, interpretação, semiótica e tem um interesse particular pelos “espaços intermédios”. Criou os solos Elisabeth (2014), Légende (2017), Dobra (2021) e OFF (2025), apresentados em Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Bélgica. Légende recebeu o prémio do júri para Melhor Espetáculo no FITT Noves Dramaturgies, em Tarragona.
A sua investigação coreográfica centra-se na espectralidade e hauntology, explorando a tradução como gesto de transposição entre corpos, línguas e tempos. Usando a voz para convocar a presença e nomear para criar vibração, investiga o invisível, os duplos e o fantasmático.
PARTILHAS PÚBLICAS
19 de junho, 19h—20h30, The Retrieved Museum
Workshop com Inês Zinho Pinheiro
Este workshop explora as interações entre trabalho pedagógico e artístico, fazendo transbordar métodos aplicados em ambos os contextos. Vamos explorar memórias pessoais através do movimento, em ligação com experiências olfativas, por meio de práticas coletivas. A sessão culminará com os participantes a desenvolverem as suas próprias “formas de rememoração”, como ferramenta para estabelecer ligações entre experiências pessoais e práticas.
20 de junho, 19h—20h30,Watermelon Theatre
Workshop com Bibi Dória
The Editing Island procura explorar ideias em torno de conceitos cinematográficos e transportá-los para o campo das artes ao vivo, do movimento e da performance. Trata-se de um espaço de experimentação coletiva com práticas de cinema expandido, coreografia, memória e imaginação.
21 de junho, 14h—16h, Watermelon Theatre
Workshop com Luísa Saraiva
Neste workshop, exploramos o corpo como instrumento de som e ressonância. Partindo da voz iremos abordar diferentes formas de produzir som e de escutar. Através de práticas somáticas e de movimento, exploramos o potencial dos processos físicos envolvidos na criação e sustentação do som. Trabalharemos em exercícios orientados para a composição de som e movimento em tempo real.
21 de junho, 19h—21h, Watermelon Theatre
Workshop com Romain Teule
Este workshop explora a voz como fantasma, a escuta como movimento e a tradução como aparição. Através de partituras performativas, navegamos por presenças assombradas e pelas fronteiras instáveis entre dizer, fazer e desaparecer.
22 de junho, 15—18h, Watermelon Theatre
Partilha pública da residência
26 de junho, 19h30—21h30, T Theatre
Apresentação final da residência
Artistas em residência Bibi Dória, Inês Zinho Pinheiro, Luísa Saraiva, Romain Teule
Artistas convidados Kai Xu, Project O (Ziyang Ye & Jiaqi Xie), Puilon Lao, Qingyu Liu, Xueying Peng
Apoio IPOR – Instituto Português do Oriente
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Residência em Lisboa, Janeiro-Fevereiro de 2025
Durante uma semana de residência no Espaço Parasita, em Lisboa, três artistas de Macau, Cantão e Pequim — Wu Hui, Hio Mei, Lin Yixing — partilham o estúdio com outros artistas convidados, oferecem um workshop e uma partilha pública da sua pesquisa e processo à comunidade.
ARTISTAS EM RESIDÊNCIA
Wu Hui
Bailarina e coreógrafa independente, residente em Cantão. O seu trabalho parte de uma perspetiva feminina, utilizando diferentes métodos para evocar a imaginação e a emoção. Tem-se interessado por corpos ecológicos como forma de entender, imitar e responder ao mundo.
Hio Mei
Artista independente, coreógrafa e bailarina natural de Macau. As suas criações exploram a relação entre culturas contemporâneas e tradicionais, combinando imagens, vídeo e o estudo do corpo na dança.
Lin Yixing
Vive em Pequim e dedica-se à exploração e prática da escrita, da performance e do misticismo. O seu trabalho tem-se focado em examinar o corpo feminino dentro da cadeia de produção moderna, explorando os rituais recorrentes, as figuras marginalizadas na mitologia e as ligações entre a história das bruxas e a história da colonização das plantas.
PARTILHAS PÚBLICAS
1 de fevereiro (sábado), 19h, Espaço Parasita
Nascer-se | To Be Born
Wu Hui
Num mundo que prioriza incessantemente o conceito de “eu”, a individualidade torna-se muitas vezes sufocante. Contrariamente, na natureza, o crescimento é descentralizado, diverso e dinâmico. Representa um processo contínuo de evolução, um desejo de resultados que permanecem em constante desenvolvimento — um continuum de chegadas e chegadas ainda por vir. Esta pesquisa procura repensar os limites da individualidade, do crescimento e da interligação, propondo uma lente ecológica para examinar a interação fluida e dinâmica da existência.
Mais uma vez | One More Time
Hio Mei
“Mais uma vez” é uma expressão muito utilizada em ensaios de dança para treino ou criação, que expressa uma ideia de repetição, repetindo o que foi feito no passado para tentar analisar se é apropriado, para ajudar a encontrar o material ou a expressão certa. Por detrás desta repetição, há uma espécie de proteção do presente, um sorvedouro de criatividade. Como podemos dar mais possibilidades e imaginação às dança que acontecem repetidamente no teatro? “Mais uma vez” tenta pensar uma “reexpressão” do presente.
Os Fósseis Sangrentos | The Bloody Fossils
Lin Yixing
As memórias e as dores do passado entrelaçam-se, solidificando-se como “pedras” tangíveis e intangíveis, escondidas profundamente no interior do corpo. O corpo segue uma progressão linear de nascimento, crescimento, envelhecimento e morte, mas estas memórias dentro do corpo não desaparecem. Manifestam-se mesmo depois de o corpo morrer, como fantasmas, vagueando por espaços invisíveis a olho nu. No meio da realidade em rápida mudança em que vivemos, que memórias estamos a formar e que vestígios estamos a deixar para trás? “Os Fósseis Sangrentos“ é um memorial vivo às vidas que já passaram e às que continuam a existir dentro do longo fluxo da história.
WORKSHOPS
29 de janeiro (quarta-feira), 10—13h, Espaço Parasita
Movimento de Crescimento
Wu Hui
As plantas, como forma de vida distinta, desenvolveram estratégias de sobrevivência únicas que lhes permite estabelecer redes sociais e políticas complexas. Este workshop inspira-se na técnica de fotografia em time-lapse de documentários sobre plantas para investigar o movimento através da lente da morfologia vegetal. Introduz a noção de movimento distal — uma prática que incorpora os princípios da teoria do rizoma referindo-se à perceção corporal multidirecional e ao movimento como um todo e/ou coletivo.
Integração | Fusão
Hio Mei
A prática de Mei envolve um conhecimento aprofundado de danças tradicionais asiáticas, através das quais procura elaborar uma relação expressiva consigo mesma. Esta partilha, procurará articular elementos tradicionais e contemporâneos na criação de uma linguagem de dança e de um corpo personalizado.
A Textura das Memórias
LIN Yixing
Os nossos corpos nascem no mundo, respirando em sincronia com as marés do universo. Desde o momento em que abrimos os olhos ao nascer, ou mesmo enquanto ainda estamos no útero, as memórias começam a espalhar-se por nós como as raízes de uma planta ou os esporos dos cogumelos, entrelaçando-se com a nossa carne e sangue. Esta oficina é uma experiência de reconstituição e descoberta de “cristais” dentro da floresta da memória. Os participantes realizarão exercícios corporais e práticas multimédia, como a pintura, para evocar percepções físicas e mentais relacionadas com a experiência pessoal.
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Sobre o T Theatre
O T Theater é um espaço para as artes performativas em Macau, sem fins lucrativos, com o objetivo de promover várias formas de coreografar, explorar uma vasta gama de práticas corporais em diferentes contextos, e encorajar artistas locais/regionais a interagir com artistas internacionais. Nos últimos anos, o T Theater tem vindo a defender a difusão da dança contemporânea e experimentado diferentes formas de intercâmbio entre a China e outros países.