EMERGENCE ROOM #2 BERLIN
Em 2011 fui convidado pelos artistas Kattrin Deufert e Thomas Plischke (a.k.a. artistwin deufert&plishke) para participar na segunda edição da Emergence Room [ER], que descrevem do seguinte modo:
«A missão da ER é criar a ER. Emergência (i.e. emergence) é a forma como sistemas e padrões complexos surgem de uma multiplicidade de interacções relativamente simples. […] A ER é um espaço para enfrentar a aracnofobia através do tecer, do coser, do tricotar, do costurar e do bordar em conjunto. Quem quer que entre na ER é responsável pela sua criação. Qualquer pessoa pode contribuir. A ER é um espaço de silêncio e proliferação.»
Esta segunda edição (ER #2) teve lugar nos Uferstudios em Berlim, de 18 de Agosto a 2 de Setembro, e foi o resultado de uma colaboração entre deufert&plischke, o Centro Interuniversitário de Dança de Berlim, o Advancing Performing Arts Project (apap) e a Tanzfabrik Berlin. Acolheu contribuições artísticas de Anat Eisenberg, Diego Gil, Juan Gabriel Harcha, An Kaler, Ana Laura Lozza, Carlos Oliveira, Felix Ott, Philipp Stich e palestras por Barbara Baert, Marcus Steinweg e deufert&plischke. A instalação da ER #2 incluiu quatro caravanas dispostas em círculo com um espaço central entre elas capaz de acolher palestras, exposições, encontros e performances. Dentro das caravanas os visitantes podiam encontrar uma variedade de artefactos, colectados e criados pelos artistas nomeados. As ideias à volta das quais estas contribuições revolviam resumem-se ao mito de Aracne, «a mulher artista que denunciou os poderes hegemónicos na representação, a mulher que foi punida pela sua arte e transformada numa aranha». Deste mito foram extraídas as acções de «tecer, coser, tricotar, costurar e bordar» enquanto modos de produção colectiva. Os visitantes eram então convidados a usar as ferramentas disponíveis para executar estas tarefas e assim inscreverem a sua actividade numa rede de traços deixados por outros. Os traços da actividade de cada um ganhavam o valor que lhes era conferido pelas relações estabelecidas com outros traços, sem qualquer marcação de autoria, pelo que a actividade de artistas e visitantes se confundia na concrescência do arquivo, num espaço onde «se podia tocar nas coisas, ir de um lado para o outro, deixar notas, criar objectos e documentar o que se visse». O carácter fundamental desta reticulação, mais do que funcional, respeitava o modo pelo qual os traços ressoavam uns com os outros, fosse por semelhança formal ou por afinidade conceptual. Com tanto potencial relacional, a ER #2 revelou-se como um complexo de «ambientes que facilitam, produzem e exigem uma complexa densidade de inter- e trans-conexões de processos e contribuições».
A minha contribuição para esta edição da ER #2 consistiu no seu registo e documentação, pelo que me foi colocado o seguinte problema: se emergência é a sua principal capacidade, como criar as condições necessárias à iteração de tal processo na forma de um documento? Como permitir a emergência de padrões imprevisíveis num sistema de referência finito? Para resolver este problema, relacionei entre si um conjunto de registos (fotográficos, videográficos, textuais e sonoros) numa base de dados digital com algoritmos que iteram combinações possíveis dos elementos de acordo com a sua indexação (resultado da observação pessoal das relações entre os objectos da instalação).