Sonhos Comuns, 2025

Sonhos Comuns acontece entre ver e não ver, no encontro de Ana Rita Teodoro com Joana Gomes. Duas intérpretes dedicadas a uma comunicação tátil, desdobram-se em danças singulares e cheias de detalhe. Partindo da ideia de que a dança tem algo de semelhante ao sonho, produzem movimentos e sensações difíceis de captar em imagem e traduzir em palavras. Sonhos Comuns propõe retirar o visual, como prova do real, da hierarquia dos sentidos e criar uma trama poética musical, acessível ao devaneio de sonhos e de danças.

Lembras-te dos teus sonhos? Alguma vez percebeste, dentro do sonho, que estavas a sonhar? Será que os sonhos podem resolver problemas? Nos sonhos, conseguimos falar com animais ou com antepassados? Será que os sonhos conseguem ver o futuro? É possível partilhar o mesmo sonho com outra pessoa?

 

NOTAS SOBRE O PROCESSO

O trabalho foi construído em cinco etapas:

A primeira etapa consiste em ouvir e gravar a descrição de sonhos de diversas pessoas. Estas gravações são matéria sonora para a composição de som, e também um complemento ao trabalho de composição das danças de Ana Rita Teodoro e Joana Gomes. Para guiar a recolha de sonhos, foram particularmente inspiradoras as reflexões de Tobie Nathan, psicólogo, professor e escritor francês, com grande trabalho desenvolvido na etnopsicologia. O seu livroLa Nouvelle Interprétation des Rêves (2013) [A nova interpretação dos sonhos] é uma proposta clara contra as simbologias dos sonhos, que atribuem significados fixos que poderiam servir a qualquer pessoa. O sonho é matéria singular, mas, porque vivemos em comunidade e partilhamos preocupações e desejos comuns, os sonhos também nos aproximam. A partir do seu livro, as seguintes categorias serviram como guia:

. Perder pé, adormecer, cair.
. Sequência de imagens – travessias.
. Não encontrar algo, perder algo.
. O pesadelo, o grito que acorda.
. Sexo e o prazer.
. Inversão de papéis, o pequeno que se torna grande, o cavalo que conduz o seu cavaleiro.
. Sonhos da falta, sonhos do excesso, sonhos do medo e sonhos da esperança.
. Sonho inventor de novas propostas, solução a problemas.
. A morte ou os mortos.
. O sonho como esboço do dia seguinte.

A partir destas recolhas de áudio e das categorias de sonhos acima descritas, Ana Rita Teodoro e Joana Gomes trabalharam em danças. Danças a solo, que se compõem com a singularidade e o imaginário de cada uma; danças que começam e acabam como se uma música estivessem a seguir. O processo de composição passa por re-escrever a dança feita anteriormente até que ela se componha ao que consideram, de forma intuitiva, justo e interessante para a globalidade da coreografia. Este “re-escrever” é tanto coreográfico, voltar a dançar com ideia de compor, como textual, isto é, descrever com uso das palavras, os acontecimentos e sentimentos experienciados, num balanço entre o que “eu sinto” e o que “eu faço”. Esta etapa deu origem a um conjunto de danças que estão descritas em papel, como uma partitura-poema. Uma mistura de monólogo interior com uma descrição concreta do movimento e dos gestos.

Com estas partituras-poemas, trabalharam em conjunto com o trio vocal Guarda-Rios para compormos canções que dão texto e imaginário à dança e à coreografia. As canções não foram compostas com todo o texto da partitura-poema, mas com uma base que dá a entender o “coração” da dança e as intenções relevantes para a categoria do sonho.

Esta é uma etapa de composição coreográfica, onde as coreografias foram desenhadas para o grupo de dez bailarinos (amadores ou profissionais), que se integram nas danças das duas bailarinas. Um trabalho feito em paralelo, mas em conjunto com o desenho de som, para unirmos som e movimento no sentido global da peça. Esta etapa é inicialmente feita em papel e, depois, com o grupo de 10 bailarinos.

Descrição da imagem: Desenho livre para exemplificar o movimento serpentino dos 10 bailarinos.

Juntar todos os elementos no mesmo espaço – dança, ambiente sonoro, trio vocal e coreografia para 10 bailarinos. Ajustar e desfrutar. 

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© Aline Belfort
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© Aline Belfort
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© Aline Belfort
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© Aline Belfort

⌂ FICHA TÉCNICA

Sonho e coreografia: Ana Rita Teodoro com a cumplicidade de Joana Gomes 
Desenho de luz: Laura Salerno 
Dança: Joana Gomes, Ana Rita Teodoro e ‘Serpenteadores’ Adriano Vicente, Bruno Brandolino, Joana Simões, João dos Santos Martins, Leo Lopes, Nicole Gomes, Natacha Campos e Suiá Ferlauto
Cantada e contada: por Guarda-Rios, trio vocal composto por João Neves, Mariana Camacho e Susana Nunes 
com adaptações de melodias tradicionais e composição sonora: por Guarda-Rios 
Letras: por Ana Rita Teodoro com Guarda-Rios
Desenho de som e operação criativa : Mestre André
Olhar externo e pesquisa de movimento: Sofia Kafol (Ana Rita Teodoro e Joana Gomes) e Francisca Pinto (Serpenteadores)
Figurinos: Leen Van den Bogaert 
Fotografias: Aline Belfort
Intérprete de LGP: Teresa Vasconcelos
Equipa de Audiodescrição: Isadora Dantas e Leo Perene (escrita de guião e narração) e Inês Gonçalves (consultoria)
Produção: Associação Parasita e Culturgest
Produção executiva: Andrei Bessa e Catalina Lescano
Administração: Sofia Lopes, Lysandra Domingues, Helena Baronet
Comunicação e imprensa: Manuela Costa
Coprodução em residência: O Espaço do Tempo
Residências: Estúdios Victor Córdon, Rumo do Fumo, Espaço Parasita

2025


10—11.10
Ana Rita Teodoro com Joana Gomes
SONHOS COMUNS / Culturgest