O Sarau da Parasita na Póvoa de Santarém é o primeiro evento da Associação na sua sede. Organizado entre os espaços da sociedade do Sport Club Povoense “Os Leões”, a Igreja Matriz e os espaços exteriores circundantes, este Sarau será composto por ateliers participativos e ações performativas de curta duração. As atividades desenrolam-se uma a seguir à outra num formato entre exposição guiada ou espectáculo de variedades expandido.
Ao longo de um fim de semana, a Parasita pretende dar a conhecer o trabalho artístico que desenvolve, e ainda dialogar com Alina Ruiz Folini, Daniel Pizamiglio e Filipe Pereira, artistas com quem tem estabelecido relações de proximidade. As propostas de cada artista pertencem ao seu trabalho recente, essencialmente a solo, e são testemunho de práticas em que a dança contemporânea é um lugar de partida, de abertura ou de contacto com outras disciplinas e práticas. A dança enquanto lugar de escrita, lugar de experimentação do corpo como entidade fluída e em transformação, lugar de pensamento sobre a ação do ser humano na terra… A dança enquanto lugar permeável e ao qual vos convidamos a vivenciar na nossa companhia.
SÁBADO, 4 DE JUNHO DE 2022
11h | Aula de corpo e voz para todas as idades | Salão SCP Os Leões | 90’
Nesta aula coletiva vamos procurar passar por diferentes exercícios para colocar o corpo em atividade.
13h | Almoço volante | Bar do SCP Os Leões
Convidamos todes a partilhar as refeições connosco. Teremos gaspacho, queijo, pão e pastéis de bacalhau.
14h30 | Leitura de Seres Vegetais | Ana Rita Teodoro e Alina Ruiz Folini | Salão SCP Os Leões | p/ inscrição | 75’
Leitura de seres vegetais é uma proposta em forma de oráculo que Ana Rita Teodoro e Alina Folini iniciaram no âmbito da rede Terra Batida em 2020. Neste oráculo de participação coletiva uma pergunta é colocada a um fruto, legume, raiz ou vegetal. O objetivo não se concentra na adivinhação do futuro, mas na observação atenta do ser vegetal e dos seus saberes, em relação com a pergunta. Inscrições até ao limite da lotação por e-mail para associacaoparasita@gmail.com ou por telefone 917611966, com nome e contacto.
16h | Workshop-performance Arranjo Floral | Filipe Pereira | Igreja Matriz | 120’
Para esta performance-workshop, convidamos toda a população e visitantes a trazer flores para decorar a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Luz. A ação participativa da decoração da Igreja será guiada pelo coreógrafo, bailarino e designer floral Filipe Pereira enquanto partilha com o público técnicas de design floral e também a sua experiência de vida num mundo discriminatório para bailarinos nos meios rurais.
18h15 | Dança Concreta | Daniel Pizamiglio | Salão SCP Os Leões | 15’
Dança Concreta (2016) é o primeiro solo de Daniel Pizamiglio que coloca em relação dança e poesia concreta. Apropriando-se de um verso da poetisa modernista estadunidense Gertrude Stein, questiona uma certa ontologia da dança que se sustenta na abstração, na imaterialidade e no efémero. Através de um encadeamento de movimentos, sons e manipulação de objetos, ativa no espaço um poema em que o corpo do bailarino e os objetos em que se transmigra são a materialidade e a concretude do seu próprio fazer.
Criação, concepção e performance: Daniel Pizamiglio. Agradecimentos: André e. Teodósio, Artem Zaytsev, Adaline Anobile, Carolina Campos, Forum Dança, Iván Haidar, José Carlos Duarte, Leonardo Mouramateus, Liedewij van Eijk, Margarida Bettencourt, O Espaço do Tempo, Paula Caspão, PEPCCS, Romain Beltrão Teule, Sara Anjo, Sílvia Pinto Coelho e Vera Mantero.
18h30 | Os animais são gente debaixo da roupa | Rita Natálio | Bar SCP Os Leões | 15’
Rita Natálio escreve poesia que dialoga entre a prática de performance e a reflexão teórica. Neste âmbito, vai ler alguns dos seus poemas publicados e outros textos vindos de várias conferências-performance, como Antropocenas (2016) ou Fóssil (2020).
— “Todos os animais são humanos”, diz uma onça.
— E eu pergunto “Quem é o sujeito dessa frase? E se for eu o sujeito, que é o sujeito por trás do sujeito que escreveu com a minha mão?”.
18h50 | Proposições I | Carlos Manuel Oliveira | Salão SCP Os Leões | 20’
Proposições (2018) é uma coreografia partilhada entre um performer e um coletivo de espetadores. Carlos Manuel Oliveira guia-nos pelas instalações da Sociedade com descrições de espaço, de corpos no espaço, de movimento de corpos no espaço, relacionando o que é dito com o que acontece. À medida que se constrói um plano de imaginação coletiva, Proposições emerge como uma coreografia do comum.
Coreografia e performance: Carlos Manuel Oliveira. Residências e apresentações: Incubadora d’Artes e Teatro Sá da Bandeira (Santarém), Programa Artistas em Residência e GEN – Centro de Artes y Ciencia (Montevideo), Centro de Referência da Dança de São Paulo e Teatro Baden Powell – Prefeitura do Rio de Janeiro. Apoio à criação e internacionalização: Fundação GDA, Fundação Calouste Gulbenkian, Direcção-Geral das Artes | República Portuguesa – Cultura.
19h30 | Trolaró | Ana Rita Teodoro & João dos Santos Martins | Salão SCP Os Leões | 45’
Ana Rita Teodoro e João dos Santos Martins conheceram-se no Verão de 2013, em França, em Montpellier, num encontro de escolas quando estudavam pliês. Ela em Angers, ele em Montpellier. Não falaram muito, mas dois anos depois, João convidava Ana para dançar numa das suas peças. A partir daí estabeleceram uma relação artística continuada que resultou em várias colaborações, seja em trabalhos individuais, seja na organização de mostras de dança, seja na fundação de uma associação conjunta ou em publicações. Agora vão ao trolaró.
Luz: Filipe Pereira. Guarda-roupa: Hibu. Encomenda: Casa da Dança de Almada. Apoio: Estúdios Victor Córdon, O Rumo do Fumo.
20h15 | Jantar e convívio | Bar e Salão do Sport Clube Povoense Os Leões
Convidamos todes a partilhar refeição. Para jantar teremos uma sopa de aipo, salada, pão, azeitonas e legumes assados.
DOMINGO, DIA 5
10h30 | É grande mas fica-te bem | Filipe Pereira | Átrio da Capela Mortuária | 15’
É grande mas fica-te bem, é um solo criado numa altura de crise. Em 2011, Filipe questionava a sua relação com as práticas de dança, pois sentia-se desanimado para dançar como se as vontades de movimentar o seu corpo estivessem adormecidas. A morte foi a temática mais óbvia para a criação da peça, daí ter percorrido as imagens do Post Mortem Photography dos finais do século XIX para se inspirar. O interesse nessas impressões estava na relação entre corpos focados dos mortos com desfocado dos corpos dos vivos numa mesma imagem sem edição. Como resultado dessa ideia foi buscar uma coroa fúnebre e depressa se animou em animá-la.
10h50 | aaah (excerto) | Ana Rita Teodoro | Banco em frente ao Café Central | 15’
aaah pensa em fins e começos, como cortes na existência de uma pessoa. aaah poderá ser um último suspiro sonoro ou o princípio de um grito de coragem. aaah poderá ser a expressão de um corte, ou de um qualquer outro gesto que uma vez executado deixa marcas tão evidentes que uma coisa passa a ser, obrigatoriamente, outra coisa.
Conceção e interpretação: Ana Rita Teodoro. Figurino: Marisa Escaleira, Nuno Nogueira, Salomé Areias e Ana Sargento. Produção: Associação Parasita. Apoio: Fundação Serralves, República Portuguesa – Cultura/Direção-Geral das Artes, Teatro do Bairro Alto, Casa da Dança, Forum Dança, OPART | Estúdios Victor Córdon, Teatro da Voz e Companhia Olga Roriz. Canções de Ana Rita Teodoro – “Lúcidos Finais” inspirada no Canto “Nossa Senhora da Azenha” das Adufeiras de Monsanto; “Peito Gaiola” inspirada no Canto “A Confissão da virgem” de Deolinda Branco Pereira.
11h20 | Proposições II | Carlos Manuel Oliveira | Salão SCP Os Leões | 20’
11h40 | Vamos Comer Salette I | Daniel Pizamiglio | Palco SCP Os Leões | 20’
Para fazer é preciso comer. Essa é a instrução: Comer e falar. Comer e dançar.
Depois de uma primeira etapa de trabalho em 2021, o artista brasileiro Daniel Pizamiglio continua este diálogo criativo e concreto com a poeta portuguesa e a sua obra, fazendo dos seus materiais-poemas outras coisas (visuais, sonoras, plásticas, do corpo, etc e vice-versa). Salette Tavares nasceu em 1922. No ano em que se celebram os 100 anos do seu nascimento, Daniel Pizamiglio apresenta-nos uma breve visita a esta relação.
Criação, concepção e performance: Daniel Pizamiglio. Agradecimentos: Bernardino Aranda, André e. Teodósio, Ezequiel Santos, Salette Brandão, Alina Ruiz Folini, Bartosz Ostrowski, Bruno Bogarim, Marcelo Tavares, Liedewij van Eijk, Adaline Anobile, Márcia Lança, Matheus Martins e Miguel Oliva Teles.
12h00 | Almoço volante | Bar SCP Os Leões
Convidamos todes a partilhar refeição connosco. Para almoçar teremos pão, salada grega e batata assada com alecrim.
14h00 | Caminhada e conversa Terra Batida | Rita Natálio | Ponto de encontro no Recinto de Festas | 60’
Terra Batida é uma rede de pessoas, práticas e saberes em disputa com formas de violência ecológica e políticas de abandono, coordenada por Rita Natálio. O conhecimento singular e local de conflitos socioambientais convocam resistência e também pedem cuidado: para especular e fabular, para construir visões e vivências sensoriais entre mundos exauridos e exaustos. Nesta caminhada, vamos conversar sobre as experiências passadas de Terra Batida em Ourique, Aveiro e Lisboa, e ouvir as pessoas sobre os problemas da região em torno da aldeia da Póvoa de Santarém.
15h30 | Coreografia | João dos Santos Martins | Palco e Salão SCP Os Leões | 35’
Em Coreografia João dos Santos Martins propõe uma reflexão sobre como a dança aparenta comunicar, apesar de não pressupor a expressão de uma língua. O trabalho explora simultaneamente os sistemas de fonética e da Língua Gestual Portuguesa, cujos sons, gestos e expressões faciais se ativam como formas de literalidade. Partindo do princípio que a dança é também um ato formal e abstrato, o trabalho questiona como texto e contexto podem ser incorporados. Separa a dança da escrita e, ao mesmo tempo, articula como a última pode ser traduzida através do corpo.
De e com João dos Santos Martins. Encomenda do Museu de Arte de Seul. Produção da Associação Materiais Diversos. Agradecimentos: Adriano Vicente e Sandra Gorete Coelho
16h00 | Vamos Comer Salette II | Daniel Pizamiglio | Salão SCP Os Leões | 20’
16h20 | Ruído Rosa — prática sobre a peça | Alina Folini | Salão SCP Os Leões | 45’
Ruído Rosa agita as vibrações sonoras da voz e das palavras, para estimular a escuta e a imaginação oral. Cria-se uma prática que se concentra no que ressoa e vibra, seja o som da voz, com vapor e água saindo da boca, ou algumas palavras e a sua fonética, um eco reverberante nas superfícies côncavas entre o interior e o exterior, um grito, uma onomatopéia, um ritmo… ou mesmo o calor de conjurar! As palavras poderiam então perder o seu lugar central e dissolver-se nos orifícios, invocando propriedades sensoriais mais do que humanas da linguagem.
Criação, dança e coreografia: Alina Ruiz Folini. Colaboração artística: Josefa Pereira. Experimentação em figurino: Marine Sigaut. Mapas gráficos: Maura Grimaldi & Alina Ruiz Folini. Iluminação (versão peça): Victor Colmenero Mir. Apoio à criação: Fundação Calouste Gulbenkian. Apoios e residências: La Caldera — Barcelona, O Rumo do Fumo — Programa de residências Artistas Emergentes, ENTRE Festival Salmon, Residências Forum Dança — Residência PACAP 4, Graner — Barcelona
17h30 | Quermesse performativa e convívio
Para esta quermesse, os prémios a sair nas rifas são performances surpresa das parasitas. Ao longo do convívio teremos caracóis, pão e húmus.
Bilhete diário: 3,00 €
Ana Rita Teodoro (Barreiro, 1982) é coreógrafa e artista pluridisciplinar. A base do seu trabalho repousa na ideia de uma “Anatomia Delirante”, que procura extrapolar temporalidades, matérias, formas, cores, temperaturas e funções do corpo humano convencionado. Criou as peças MelTe, Orifice Paradis, Sonho d’Intestino, Palco, Assombro, Fofo, Your Teacher, please e aaah. Em contexto pedagógico criou as conferências 1 – Le corps e 2 – Petite histoire de l’imaginaire corporel para o público infanto-juvenil. Colabora com diferentes artistas na área da dança, da performance e da música. Foi artista associada ao CND entre 2017-2019.
Alina Ruiz Folini (Buenos Aires, 1981) é artista não binária, nascida na Argentina. O seu trabalho move-se entre coreografia, dança, escrita e práticas curatoriais. Em 2017-18 fez um mestrado em Prática Cénica e Cultura Visual no Museo Nacional de Arte Reina Sofía. Dirige a plataforma internacional de artistas, saberes e práticas Arqueologias do Futuro em Buenos Aires. Em 2021 estreou Ruído Rosa em Portugal.
Carlos Manuel Oliveira (Santarém, 1980) é coreógrafo, performer e investigador. O seu trabalho problematiza de formas diversas a relação entre a coreografia e a dança, bem como os tipos de conhecimento que lhes estão associados.
Daniel Pizamiglio (Fortaleza, 1988) é criador e performer brasileiro, radicado em Lisboa. Desde 2012 estuda e pratica a Composição em Tempo Real; participou no Programa de Estudo, Pesquisa e Criação Coreográfica do Forum Dança (2015-2016); e tem colaborado como intérprete, co-criador e assistente de direção em diferentes projetos com diversos artistas. No seu trabalho, procura um encontro entre a poesia e o corpo e como ativar a corporalidade dos afetos e da relação.
Filipe Pereira (Fátima, 1986) é coreógrafo, bailarino e designer floral. O seu trabalho tem-se desenvolvido a partir de uma reflexão sobre a hierarquia dos dispositivos nas artes cénicas, dispersando a coreografia para os diversos elementos constituintes de um espetáculo, como a luz e a cenografia.
João dos Santos Martins (Póvoa de Santarém, 1989) é artista. O seu trabalho abrange várias formas que circundam a dança, seja através da coreografia, da exposição ou da edição, atravessadas por questões que concernem genealogias da história da dança, processos de transmissão, práticas discursivas e paradoxos sobre a atividade de dançar. Juntamente com Ana Bigotte Vieira, criou um dispositivo para o mapeamento coletivo da dança em Portugal — Para Uma Timeline a Haver. Dançou em trabalhos de Ana Rita Teodoro, Eszter Salamon, Moriah Evans, Xavier Le Roy, Jérôme Bel, Manuel Pelmuş, Rui Horta, entre outros.
Rita Natálio (Lisboa, 1983) é artista e pesquisador. Lésbica não-binárie. Os seus espaços de prática relacionam poesia, ensaio e performance. Doutorando em Estudos Artísticos na FCSH-UNL e Antropologia na USP, com bolsa FCT, pesquisa o debate sobre o conceito de Antropoceno e o seu impacto nas relações entre arte, política e ecologia. A partir da sua pesquisa, realizou uma série de conferências-performance, entre elas Antropocenas (2017) com João dos Santos Martins, Geofagia (2018) e Fóssil (2020).