[estreia 2 de Julho 2023]
Em 2020, foi encontrado um livro dentro de um poço. O poço estava, como muitas outras cavidades da vida, contaminado por atividades superficiais de monocultura intensiva. A sua água, tornada insalubre, havia secado por tempo indeterminado. Foi portanto neste buraco seco, embora visceralmente marcado pela memória da água, que foi encontrada uma tradução de “Lesbian peoples: material for a dictionary” escrito em 1976 por Monique Wittig e Sande Zeig. (Rita Natalio)
A construção de Spillovers parte de Lesbian peoples: material for a dictionary. Escrito em 1976 por Monique Wittig e Sande Zeig, trata-se de um dicionário para amantes que procura desenhar os contornos de um léxico emocional, sensorial e político.
Rita Natálio constrói uma releitura fabulada desta obra, um texto tátil também apresentado como um manual sexual transfeminista que reflete sobre o lugar do corpo, do erotismo e da experiência somática na criação de alternativas para problemas ecológicos atuais.
O Cinema Batalha coproduz esta performance-filme que Rita Natálio desenvolveu, de forma coletiva e cumulativa, com colaborações de diferentes spillovers: Alina Folini, com quem iniciou o projeto e desenvolveu as partituras coreográficas, Josefa Pereira e Ves Liberta na performance e texto, Liz Rosenfeld com contribuição fílmica, Aline Belfort na dimensão audiovisual, Odete na música e desenhos, Kahumbi na criação de roupas e toys, além de toda uma rede de iconografias e textualidades que transbordam as cosmovisões desta comunidade inventada.
Uma versão em forma de leitura performativa do texto foi apresentada em diferentes contextos, tais como o Short Theater em Roma, Centrale Fies ou num encontro da PARTE Portugal Art Encounters.