Nessa conferência-performance carrego um monte de 150 kg de terra enquanto interligo diagnósticos. Comer terra é o ponto comum para conectar desastres recentes de mineração em Minas Gerais (Mariana 2015 e Brumadinho 2019); mitos de origem indígena Yanomami sobre a geofagia e os seres míticos Pitawerewe (os devoradores de terra, os construtores e fundadores da o mundo Yanomami); literatura médica ocidental sobre a doença de comer terra durante os tempos coloniais; e a própria colonialidade como distúrbio alimentar da terra, ou a Revolução de 1789 e os valores de Liberdade Igualdade Fraternidade representados pelo a erupção excitada de um vulcão,. O foco é dado à terra como “zona extrativa”, uma noção de Macarena Gomès Barris (2017) que define o extrativismo como um sistema codificado visual, estético, mas também outras acepções da relação com o território que são simplestamente descartadas do pensamento dominante.
Rita Natálio
“Geofagia” surgiu na sequência de um convite para a participação no projeto NAU!, co-produção do TEP com o Cultura em Expansão (programa do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto). O projeto NAU! decorreu em Julho de 2018 e usava um contentor marítimo como espaço de encontro, de discussão e problematização públicas do colonialismo e da historiografia. Participaram de NAU! Mamadou Ba, Jota Mombaça, Marta Lança, Elísio Macamo e Manuela Ribeiro Sanches, entre outres.
Geofagia ganhou o Concurso de Artistas organizado pelo VII Congresso da Associação Portuguesa de Antropologia em 2018 e foi apresentada durante o congresso.